Por Isac Silva

Já faz algum tempo que lemos reportagens em veículos de comunicação tradicionais, a respeito do risco de extinção dos jumentos no Brasil. Não faz muito anos desde que a força de trabalho dos jumentos foi se tornando cada vez menos utilizada nas fazendas. Esses animais de carga, sela e tração leve, foram substituídos por motocicletas, tratores, caminhonetes. Até mesmo nas cidades do sertão nordestino, o animal que foi símbolo da resistência e do trabalho duro do sertanejo, foi deixado de lado.
Com essa substituição, os jumentos se tornaram um problema. Os fazendeiros não viam mais utilidade nesses animais e os abandonavam nas estradas. Vagando livremente, se reproduziam sem controle e aconteciam acidentes por colisões de veículos com esses animais nas estradas.
Mas o cenário mudou rapidamente, quando os chineses se interessaram pelos jumentos brasileiros. No ano de 2016, o Brasil começou a abater jumentos para abastecer o mercado chinês. O ejiao, um produto feito a partir do couro dos jumentos e usado pela medicina tradicional chinesa, impulsionou a demanda da China pelos animais do Brasil.
Há dois anos, reportagens já informavam uma redução de 60% da população de asininos no período entre 2017 e 2023, a partir de dados divulgados pelo Censo Agropecuário. Já em 2025, foi divulgada a informação de que no período entre 1996 (início das vendas para a China) e 2052, mais de 1 milhão de jumentos foi abatida. Esse número representou uma redução de 94% do número de jegues no Brasil, que teria cerca de 78 mil animais em seu território. Esse dado alarmante ainda sugere uma estimativa de extinção dos jumentos no Brasil em cinco anos (2030).
No Brasil, há apenas três frigoríficos autorizados a abater jumentos. As três unidades estão no estado da Bahia. Há discussões e projetos de lei no congresso nacional, visando a regulamentação desses abates, mas eles não avançaram muito. Assim, o abate dos jumentos está ocorrendo de maneira extrativista e não sustentável no longo prazo. Não existe uma cadeia produtiva de jumentos, apenas a captura ou venda, e abate de animais.
Ainda há muito a ser discutido sobre o futuro da criação de jumentos no Brasil. Sabemos que há os criadores que valorizam esses animais, não apenas pelo trabalho, mas também por sua beleza e funcionalidade. Temos a raça de jumentos Pêga. Animais marchadores e que, por meio do cruzamento com éguas marchadoras, produzem as mulas de patrão, que valem milhares de reais.
Até que haja definição de marcos legais para estruturar a cadeia produtiva, o país pode chegar ao limite da sua população de jegues. E nesse ponto, os atuais compradores buscarão outros mercados que possam fornecer o produto desejado.
É preciso olhar para essa questão, tanto sob a ótica da produção agropecuária, quanto cultural. Preservar um animal que faz parte da nossa história e que se adaptou às condições mais adversas do Brasil.


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