A seleção intensa pode ameaçar a diversidade genética dos zebuínos no Brasil

Por Isac Silva

Um grupo formado por pesquisadores do Brasil e da França estudou a estrutura genética das populações de raças zebuínas existentes no Brasil. Esse tipo de estudo é importante para acompanhar a variabilidade genética de um grupo de animais. Onde existe diversidade, existe oportunidade de ajustes na seleção do rebanho, para adaptação às condições de criação ou finalidade da produção. Além disso, populações com pouca diversidade genética podem estar mais vulneráveis a ter animais com problemas de saúde ou mal formações passadas de uma geração para a outra.

Das oito raças de zebuínos existentes no Brasil, os pesquisadores estudaram sete: brahman, gir, guzerá, indubrasil, nelore, sindi e tabapuã. Eles descobriram que essas sete raças possuem uma população crescente, mas apesar disso, em todas as raças, a diversidade genética de cada população não está sendo preservada. Apesar disso, não houve indícios de problemas importantes relacionados a essa perda de diversidade em nenhuma das raças estudadas.

Os dois principais problemas que foram comuns nas sete raças foram o efeito gargalo e a subdivisão da população. O efeito gargalo, em populações de animais selvagens, se refere a uma redução muito drástica da população, geralmente associado a uma catástrofe natural. Quando isso acontece, ficam poucos indivíduos adultos, que vão se reproduzir entre si para gerar a próxima geração, com menos diversidade. Em criações de animais domésticas, essa redução drástica acontece pela seleção artificial. No caso dos bovinos, por exemplo, quando se decide reproduzir apenas animais registrados em um livro genealógico da associação de criadores, são escolhidos os melhores animais de uma população maior e apenas eles serão registrados. Ou seja, se houvesse 1.000 animais na fazenda e apenas 100 fossem registrados, fazendo o “gargalo” no processo de seleção.

A subdivisão da população é um problema de fluxo de animais. Nesse caso, um criador ou um grupo de criadores de uma determinada região só consegue ou prefere fazer cruzamentos apenas de seus animais numa cidade A. Em outra cidade, há outro grupo de criadores, que faz o mesmo. Assim, são criadas duas populações de animais da mesma raça, que não trocam indivíduos entre si, e não existe troca de material genético, ficando isoladas uma da outra, do ponto de vista reprodutivo.

Nelore foi a raça com maior número de animais com pedigree, com mais de 10 milhões de indivíduos. A raça brahman se destacou pelo alto número de animais com pedigree conhecido, com animais alcançando até 30 gerações conhecidas. O maior intervalo entre gerações foi do indubrasil, com quase 10 anos de diferença entre uma geração e outra. A raça brahman teve apenas 6.9 anos de intervalo, o que é um bom indicador de ritmo mais acelerado de seleção e progresso genético. Com relação à endogamia, apenas a raça indubrasil apresentou um coeficiente maior que 6%. Todas as demais raças possuem baixa endogamia, entre 2% e 3%. Em raças como nelore, tabapuã e sindi, houve um uso abusivo de poucos indivíduos em relação à população total para a reprodução. Em todas as raças estudadas, o número de acasalamentos aleatórios tendeu a diminuir, o que mostra um processo de seleção mais intensivo, com cruzamentos dirigidos.

Para evitar que esses problemas se tornem relevantes no futuro, é importante adotar algumas estratégias, como o aumento do número de reprodutores de cada raça. Hoje em dia, com os programas de seleção bastante rigorosos, muitos touros são excluídos do rol de reprodutores. Nesse estudo, os pesquisadores identificaram maiores ameaças para a raça indubrasil, pela grande diminuição do rebanho nacional. A raça sindi, no entanto, está seguindo o caminho contrário e aumentando o seu rebanho no Brasil.

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