O brasileiro não investe e não quer saber sobre isso

Por Isac Silva

A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) publicou um relatório chamado “Raio X do investidor brasileiro”. O documento foi resultado de uma coleta de dados com 5.846 entrevistados de todos os estados do Brasil. Há vários achados interessantes sobre o perfil das pessoas que investem seu dinheiro em algum produto financeiro. E também, acaba sendo informativo sobre quem não tem esse hábito de investir.

Os dados indicaram que cerca de um terço das pessoas economizou algum dinheiro em 2024. Porém, dessas pessoas, apenas 4 em cada 10 aplicou os recursos economizados em produtos financeiros. Isso revela que há um potencial enorme de crescimento para o mercado financeiro. Mas é neste ponto que se destaca outra informação do relatório.

Dentre as pessoas que já possuem algum investimento financeiro, 90% busca se informar sobre produtos financeiros. Já no grupo de pessoas que não investem, apenas 3 em cada 10 procura informações sobre tais produtos. Como alcançar esse público?

Atualmente, as fontes de informação mais acessíveis sobre os produtos financeiros estão em plataformas digitais. Canais de comunicação como o YouTube e o Instagram, além dos diversos sites especializados, disponibilizam informações e atualizações sobre os produtos financeiros com alta frequência. Ainda assim, veículos de comunicação mais tradicionais, como programas de televisão e jornais, continuam sendo fontes bastante disseminadas entre a população. Como se pode esperar, as pessoas jovens e adultas procuram mais os canais digitais, enquanto os idosos buscam os meios mais tradicionais para se informar.

De maneira similar, os jovens e adultos estão utilizando cada vez mais os aplicativos de instituições financeiras para encontrar os produtos financeiros de seu interesse e aplicarem as suas economias (49% dos entrevistados). Esta tendência é ainda maior nas classes sociais A e B. Enquanto isso, os idosos tendem a manter a preferência pelo atendimento em agências bancárias.

A população brasileira é bastante diversificada e temos uma alta concentração de renda. Dito isso, a pesquisa classificou as pessoas em quatro grupos. O grupo que não possui qualquer reserva é o maior deles e agrega 52% da população brasileira. O segundo maior grupo é formado por 17% da população que economiza, investe e tem esse investimento aplicado em pelo menos dois produtos financeiros, ou seja, aposta na diversificação dos investimentos. O terceiro grupo, formado por 12% da população, economiza, mas não investe seu dinheiro em produtos financeiros. E, ao final, 10% da população que aposta no que se considera o produto financeiro mais popular de todos, a caderneta de poupança, e coloca neste produto todas as suas economias.

Observa-se então que, mesmo desconsiderando os 52% da população que não tem reserva financeira, outros 22% (somando os que economizam e não investem com os que tem apenas a caderneta de poupança) formam um contingente de pessoas com recursos que não estão bem aplicados. Essas pessoas estão deixando de receber renda passiva e, por talvez não conhecerem os produtos financeiros ou não buscarem informações sobre eles, sequer percebem que estão perdendo esta oportunidade.

Com relação aos objetivos de quem investe, a maior parcela, 28,3% busca juntar dinheiro para comprar a sua casa ou imóvel próprio e 20,2% investe para usar em sua velhice ou aposentadoria. São objetivos bastante tangíveis e voltados, de certa forma, para a vida diária e o conforto. Apenas 2,4% investe visando o lucro ou aumento de rendimentos.

Por último, uma dissonância entre as gerações bastante interessante. Entre as pessoas que ainda não se aposentaram, quando perguntadas sobre de onde acreditam que virá o seu sustento na aposentadoria, 56% afirmou que virá de aplicações financeiras e 30,3% da previdência pública (INSS). Já quando foi investigado de onde provém o sustento dos já aposentados, 100% deles afirmaram receber sua renda mensal da previdência pública. Apenas 9,3% dos entrevistados já aposentados obtinham renda de aplicações financeiras. Esse dado pode mostrar o avanço do conhecimento da população sobre investimentos em produtos financeiros e o interesse em utilizá-los para planejarem melhor a sua aposentadoria. Mas também pode transparecer certa ignorância dos que ainda não se aposentaram ou uma elevada expectativa com relação aos investimentos que estão fazendo, considerando o longo prazo entre os aportes iniciais e o usufruto deles e da rentabilidade que poderá ser obtida ao longo dos anos.

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